Tenho trocado tanta ideia sobre o momento atual da moda brasileira esses dias! Nada mega expert e cabeça, de uma maneira mais informal mesmo sabe? Com a chegada das labels gringas de luxo (tooodas vindo pra cá, só em Recife já temos Prada, Burberry, Dolce…) e as fast fashions se preparando para dominar terras tupiniquins (Welcome Forévis Vinte e Um!!!), como ficam as “nossas” marcas hein Brasil? Complicado concorrer com a produção em massa que rola na China e afins, além do suuuuuper trabalho de branding mundial né? Fora todo nosso eterno dilema de altos impostos e burocracias…uma novela!
Dois caminhos estão rolando: Grandes grupos comprando as marcas, centralizando e facilitando as operações – tem o AMC com marcas como Forum, Triton, Colcci e Tufi, o Restoque com John John, Le Lis, Noir e Bo.Bô e o InBrands com Herchcovitch, Ellus, Richards entre outras. E alguns nomes bem conhecidos investindo pesado em linhas de produtos licenciados nos mais variados segmentos. Tem de maquiagem a band aid, passando por roupa de cama e isqueiros. Tudo ganha super valor agregado quando assinado por grandes estilistas!
E foi justamente quando acompanhava o lançamento da coleção Make B. por Ronaldo Fraga que veio a vontade de escrever esse post, já que fazia um tempinho que não falava mais dessa parte business da moda. Conversamos com Ronaldo, Isabela Capeto e Alexandre Herchcovitch, 3 veteranos bem sucedidos em matéria de licenciamento. Saca aí!!
Em 2011, 3 anos depois de vender 50% de sua marca pro conglomerado InBrands, a carioca Isabela Capeto fez um acordo e retomou o controle da sua marca. Sem desfilar no SPFW e trocando sua antiga loja em Ipanema por um espaço menor no formato ateliê, IC anda emprestando seu DNA estampado e animado pra outros segmentos.
“É uma coisa que eu adoro fazer, que me dá prazer, acho muito bacana poder ver minha marca com pessoas que jamais poderiam comprar”, comenta Isabela, que começou a ampliar o alcance de sua grife com seu famoso perfume by Granado, há cerca de oito anos. “É você tentar fazer uma coisa diferente num produto que em geral as pessoas só fazem por fazer. Tudo que eu achar legal, e que eu posso melhorar, do ponto de vista do design, eu faço”, diz a estilista, que além de parcerias com a C&A, Melissa, Keds e Chilli Beans também já deu um talento em babador para babys e até latinha de papel higiênico!
“Não descarto nenhuma categoria de produto. Acho que a minha marca já é super forte, pop, que uma classe não vê problema em ver outra usando. Foi muito bacana, por exemplo, na coleção com a Panvel, ver as pessoas podendo comprar itens com minha assinatura por R$ 5, R$ 10″. A estilista carioca, aliás, se prepara para a sua primeira parceria internacional, a ser lançada em maio.
“É tipo uma encomenda, e aí desenvolvo o produto da mesma maneira que a roupa: faço uma cartelinha de cores, penso nas estampas, penso qual é um tema atual pra gente colocar”, diz Isabela. “Escolho tudo, as cores da maquiagem, a embalagem, tudo para ficar lindo, com um padrão Isabela Capeto”.
Herchcovitch, que atualmente faz parte do grupo InBrands, é um verdadeiro veterano no assunto, fazendo tudo que “sua caveirinha” tocar virar desejo. Começou a licenciar seu nome há 12 anos com a Zelo (o contrato foi renovado ano passado!) e sua linha representa nada mais, nada menos que 10% do faturamento total da empresa de homewear, bafo hein?
Ele também curte muito essa ideia de ver a democratização da marca (para a qual ainda tem muita gente que torce o nariz). “Decidi licenciar produtos mais acessíveis porque existe um público que quer consumir a marca, mas não necessariamente a linha prêt-à-porter. A parte mais bacana é fazer produtos que TODOS possam ter sem restrições, isso me faz feliz. A popularização da marca foi uma escolha minha, nunca tive medo de fazer produtos mais acessíveis”, contou ao GE.
Tanto trabalho com os licenciados, claro, também rende um bom resultado financeiro. “Acho que uma coisa complementa a outra. Poderia não fazer isso e viver só de roupa, mas é uma coisa que eu gosto de desenvolver”, comenta Isabela. Já Herchcovitch vê o licenciamento como uma parte essencial pro negócio de moda ficar no azul. “Grande parte do faturamento da marca vem da venda de produtos licenciados”, revelou.
Para Ronaldo, a vontade de ter essa conversa com outras áreas é ainda algo que só vem a enriquecer o setor. “A moda está cansada de ficar presa na roupa em si. E quando ela se liberta dessa roupa para estabelecer diálogo em outras frentes, ganhamos todos. É uma coisa que lá fora já vinha acontecendo”, comenta.
No caso do desenvolvimento da linha para a Make B., Ronaldo chegou até a viajar em segredo para Curitiba, sede de O Boticário, diversas vezes durante os dois anos em que a parceria estava sob sigilo. “Não foi só o empréstimo de um desenho, uma estampa. Participei da pesquisa, desenvolvimento do conceito, análise, tudo!”, lembra.
É uma forma também de concorrer com as marcas internacionais que não param de desembarcar no Brasil. “Acho que lá fora a moda tem força porque extrapola a roupa. E aqui ela ainda não conseguiu fazer isso. A moda é difícil como qualquer outro setor, passa por altos e baixos, e hoje as marcas internacionais estão aí do nosso lado no mercado, então mais do que nunca é hora de investir no design brasileiro, na assinatura brasileira”, acredita.
Ronaldo também vê que funcionamos em um esquema diferente. “Aqui você precisa muito mais do que a expertise, tem também a distribuição, então o estilista sozinho não conseguiria. No caso dessa parceria com O Boticário, o grande mérito é justamente romper com essa distância oceânica que existe entre o designer e a indústria, não só a de beleza, em geral”, disse.
>> DESFILES x LICENCIAMENTO x LOJAS
E já que estamos falando dessa democratização da moda, onde é que ficam os desfiles, hein? “Costumo dizer que o desfile é o momento em que o estilista pode levar as roupas às últimas consequências. O desfile passou a ser mais uma operação, mais uma vitrine, e não a única, como muita gente pensava até bem pouco tempo, mas isso não o desvaloriza”, comenta Ronaldo. “Ele não perde sua importância, mas o lugar de vender mesmo é showroom, loja. O desfile é esse desafio de transportar as pessoas para o seu universo mágico em oito minutos, ele desperta um fascínio nas pessoas que é impressionante”.
“Hoje eu tenho meus licenciados, em torno de 20 produtos. Acho que isso traz um momento novo da moda no Brasil, sua democratização, então você acaba suprindo um desejo de um consumo reprimido”, avalia. “Sobre as lojas, particularmente optei por ter uma distribuição de roupa menor até para poder manter esse desejo”.
Concordo muito com o ponto de vista de Ronaldo que a moda ganha mais força quanto extrapola a barreira da roupa. Na gringa isso já é super consolidado, imagina, por exemplo, o que seria de Michael Kors sem seus relógios, bolsas e óculos?! A marca, inclusive, entrou recentemente no seleto grupo de bilionários da moda ao lado de nomes Tory Burch, Ralph Lauren e Renzo Rosso (a.k.a Diesel). O que eles tem em comum? Linhas paralelas muito fortes e populares que vão além do vestuário. Mas também investem pesado em campanhas, desfiles e lojas lindas, cheias de conceito. O que vemos aqui no Brasil são os estilistas sendo obrigados pela condições do mercado a enxugar sua estrutura e muitas vezes até cancelar sua participação em fashion weeks, sem conseguir assim fazer o ciclo completo do branding, tão essencial hoje em dia para a valorização da marca quanto a própria roupa.
Também acompanhamos dia a dia marcas adquiridas por grandes grupos perderem muitos pontos no design (apresentando desfiles incríveis e “rycos”, mas entregando peças “bobas” nas lojas) e pólos de moda como Belo Horizonte ganhando cada vez mais força no mercado, com marcas ultra comerciais que entregam exatamente o que a consumidora brasileira (em geral feminina como a mineira!) quer usar naquele momento, o que também é muito legal! Talvez por isso Paulo Borges esteja fazendo esse caminho inverso no SPFW, trazendo labels fortes “na rua” para a passarela né?
Bem, falei muito! kkk Mas resumindo minha opinião, gostaria muito de ver no Brasil um ambiente econômico favorável para que marcas originais e com potencial internacional conseguissem balancear de maneira saudável o design de qualidade com essas parcerias comerciais. Seria o mundo ideal para a nossa moda hein?
- E vocês?! O que acham do assunto?! Vamos conversar nos comments?!