Fashion week não é fashion week que se preze sem todo o registro de streetstyle, né não? Esse tipo de cobertura ficou tão importante que já tem suas próprias estrelas (como as editoras de moda Miroslava Duma, Giovanna Battaglia e Anna Dello Russo), tendências e, claro, também muita gente que se desloca pelo mundo todo para fotografá-las.
Pensando em conhecer ainda mais este outro lado – muitas vezes longe do glamour que se imagina para a profissão -, os queridos Hick Duarte e Rodrigo Esper, do I Hate Flash, fizeram esse miniguia para quem quer se dar bem fotografando streetstyle! Vale tanto pra quem vai se aventurar em uma fashion week e precisa de umas dicas quanto pra quem só gosta do tema e tem curiosidade sobre ele. Confiram o depoimento/dicas deles:
Vejo que hoje existe todo um hype na cobertura de streetstyle feita nas semanas de moda internacional. Hoje em dia ela reporta as tendências de forma até mais forte do que as próprias passarelas, afinal são roupas ‘reais’ que nós mortais também podemos consumir (mais ou menos, né?).
Da perspectiva do fotógrafo, essa cobertura parece uma maravilha: a variedade de estilos e personalidades é enorme, somada à quantidade de pessoas interessadas nesse material e ao fato de todas as capitais da moda serem por si só cenários lindos. E bem, com esse combo não tem nenhuma pegadinha não, é muito maneiro sim! Mas tá muito – mas muito – longe de ser essa regalia toda que parece de fora.
Então levando em consideração esse lado “na real” disso tudo, listamos aqui 10 dicas para quem curte fotografia e já pensou em se arriscar:
1. Fique de olho nas entradas e saídas dos desfiles
Esses são os dois momentos óbvios em que a maioria das pessoas mais legais dão pinta na rua. Faça um calendário com o horário dos desfiles mais importantes, chegue 40 minutos antes deles começarem e só saia 20 minutos depois dele acabar.
2. Mas dependendo do foco, fuja dos grandes shows
Quanto maior o desfile, mais fotógrafos, mais seguranças, mais correria. Quanto mais celebridade, mais fotógrafo estilo papparazi, do pior tipo – esses não querem nem saber da moda de rua de que estamos falando aqui. Então esses lugares acabam sendo mais difíceis de se conseguir streetstyle com identidade, é preciso muito cuidado com os holofotes para as celebs – quase nunca elas rendem aquela foto com boa informação de moda que você tava procurando!
3. Não tenha preguiça de ir além do QG
A maioria das semanas de moda tem um quartel general, um espaço que reúne a maioria dos desfiles. Porém, é bem comum que os mais interessantes rolem em outros locais. Os novos estilistas, que não têm tanto assédio, costumam apresentar as suas coleções fora do QG. Vale sempre permanecer circulando porque eles também têm um público ótimo, super antenado,
4. Preocupe-se com a curadoria
Não é porque é chamativo que é interessante. Quer dizer, às vezes é, mas a beleza real está nos detalhes. Tem muita gente que vai pra porta dos desfiles pra aparecer, gente que não foi convidada, nem nada. Veste uma roupa pra impressionar, vai pra porta com pinta de convidado, chega na frente dos fotógrafos e fica rodando por ali até ser clicado. Acredite, acontece demais. Tem que ligar o radar pra quem é poser/fake. Fazer uma curadoria boa de sua entrega é metade do trabalho de um bom fotógrafo de streetstyle.
5. Conheça todo mundo
Os melhores fotógrafos do circuito sabem o nome de to-do-mun-do. Não só o nome, como a sua relevância no meio, os seus últimos trabalhos, etc. Esses fotógrafos fazem bom uso dessas informações, conversando mesmo, sem medo, sabendo o valor do próprio trabalho e chegando pra fulano: “Oi, tudo bom? Adorei o visual! Nossa, aquele artigo que escreveu tava ótimo, tô lendo seu livro, posso fazer uma foto sua?” E pronto, sorrisão, todo mundo feliz.
6. Tenha personalidade
Ache a sua, bitch! Encontre um foco, algo que goste de fotografar, seja um estilo (mais classudo, mais chique, ou urbano, etc.) ou uma abordagem própria (um dos mais maneiros recentemente é um focado só em negros – o streetetiquete). Um tipo de câmera/lente, um tipo de edição, qualquer coisa. E, sei lá, faz um tumblr e um instagram só com foto disso! Essa identidade é essencial pra ser reconhecido no mar de fotógrafos.
7. Menos é mais também vale pro equipamento!
É importante ter flexibilidade pra fotografar em várias circunstâncias de distância e luz. Tem gente que carrega flash, tem quem tenha um jogo de várias lentes, e tem gente que vai só com uma compacta. Como você faz é problema seu, mas a minha dica é: viaje leve. Carregar muita coisa é um saco, você fica de mau humor com aquele monte de peso. Eu uso uma 5D Mark III, uma 70-200 e uma 35mm 1.4. Tudo numa bolsa de um ombro só, com um case de cintura. Mas dá pra ser ainda mais leve que isso!
8. Prepare-se para a competição
Óbvio que você não foi o único que pensou em fazer isso. A demanda por esse tipo de conteúdo vem de toda parte do mundo, todos querem material exclusivo, então todo mundo manda fotógrafo. Teve caso em que chegamos a trabalhar com mais de 50 profissionais dividindo uma ruazinha. É uma loucura! É muito importante estar preparado psicologicamente pra isso, pra saber se posicionar, defender seu espaço com educação e lidar com a pressão.
9. Pontos de vantagem
Não é o lance do celular não, é a tradução que achei pra ‘advantage spot’. Se todo mundo se afunilou na entrada do desfile, descubra de onde as pessoas estão vindo, vá para a esquina mais próxima, fique plantado lá. Você não vai pegar todo mundo que chegar no desfile, mas vai ter espaço pra parar um ou outro que desceu um pouco mais longe. Personalidade, exclusividade, é isso que é importante.
10. Seja legal com todo mundo
Isso meio que serve pra vida inteira, mas na correria faz toda a diferença do mundo. Conversando com os outros fotógrafos fomos ficando amigos, sabendo o nome das pessoas, tratando todo mundo como igual. Aconteceu em vários momentos dessa galera vir até nós dar dica sem que pedíssemos, falar de personalidades que não conhecíamos, nos apresentar pra gente interessante, ‘dar um espacinho’, até mesmo segurar outros fotógrafos que estavam pra entrar na frente ou no fundo da nossa foto.
E se pudesse “resumir a ópera”, a dica mais essencial: vá com calma!
Tem gente que faz isso há uns 10 anos, o pessoal aprendeu a manha. Fique de olho no que eles estão fazendo, vá sem pressa, observe-os trabalhando, descubra as regras, o que pode e o que não pode, o que é feio e o que não é. Observe e observe, que uma hora você entende o jogo. Nos vemos na próxima fashion week?
Do outro lado da câmera: Hick Duarte na foto acima, e, abaixo, Rodrigo Esper no cenário lindo de Nova York nesta última temporada! Também são deles todas as fotos deste post
- Gostaram de saber mais sobre o universo do streetstyle? Aproveita pra relembrar a entrevista com Lee Oliveira + truques pra ser clicada na rua!