Um dos maiores nomes da nova geração da MPB, Agnes Nunes é um acontecimento. Aos 23 anos, a cantora possui uma calma e maturidade invejável em qualquer ser humano. “Sou sossegada. Realmente, nada me abala. A não ser algumas coisas, porque sou ariana com ascendente em Áries, então algumas coisas não tenho paciência. Se eu peço uma coisa e demora muito, vou lá e faço”, afirma em entrevista exclusiva para o Garotas Estúpidas.

Capa digital de novembro do GE, ela abriu a sua casa para um ensaio exclusivo e bate-papo intimista. “Vocês foram as primeiras pessoas que vieram à minha casa depois que eu mudei”, disse a cantora, que acaba de se mudar para um novo apartamento em São Paulo.
Durante a entrevista, Agnes comenta sobre o começo da sua carreira, que iniciou graças a um presente da mãe e um “furto” no celular da avó. Além disso, falamos sobre autoestima e recomeço, ela promete um 2026 repleto de novidades em sua carreira após uma espécie de hiato musical.

“Passei quase um ano sem conseguir compor, por causa de fatores externos, da correria, da vida externa. Fui atrás de terapia, de esporte, da natureza, tudo que pudesse me reconectar de volta para conseguir compor”, comenta a compositora, que cita como exemplo Duda Beat, que recentemente fez um desabafo sobre um período de pausa entre um trabalho e outro.
Agnes endossa que a questão artística é real e que o universo dos algoritmos na música não ajuda muito no criação. “Muita gente não entende, às vezes nem o próprio artista entende (o hiato). Fico muito agoniada para poder soltar as minhas músicas e coisas novas, tudo que eu tenho feito e preparado. É muito difícil não ceder à pressão do mercado”, desabafa ela, que lançou seu último disco em 2022, “Menina Mulher“.
Passado
Essa realidade atual embasada pela carreira musical é bem diferente do passado de Agnes, que veio do interior da Paraíba, no Sertão, em uma cidade chamada Jericó. Desde aquela época, a música sempre foi seu fio condutor. Mais do que isso, ela regou a sua vida desde criança, como a mesma conta. “A música entrou de fato na minha vida como uma válvula de escape. Era uma criança muito sozinha e a música sempre me salvou”, diz ela, que relembra que ganhou um teclado da mãe quando criança, mas na verdade, naquela época, queria um celular para “se sentir parte” do grupo das crianças da escola.
“Chegava da escola e ficava horas nesse teclado. Foi quando aprendi a tocar sozinha. Nisso, comecei a gravar os vídeos (escondido, com o celular da avó), mas sem expectativa alguma”, relembra. “Quando minha mãe percebeu as gravações, já estava tudo postado. Comecei no YouTube e depois fui para o Instagram, que era a rede social do momento naquela época”, conta Agnes.

Por mais que atualmente viva longe de sua terra, a artista escancara sua origem através de seu sotaque, referências e até mesmo gastronomia. Boatos que em sua casa sempre tem pratos típicos, uma espécie de conforto para si mesma. “Eu vi o sertão passar por várias fases, várias dificuldades e eu vi aquele povo ser forte para caramba, enfrentar seca e ainda ter fé de saber que a chuva vai cair, que a plantação vai vir e que o milho vai estar bom, que o São João vai dar certo. Tenho muito orgulho de quem eu sou, não quero perder isso”.
Força feminina
Desde sempre, a conexão com sua avó e mãe é muito intensa. Inclusive, é dessa relação que Agnes se tornou forte, assim como as duas mulheres que lhe criaram. “Elas (mãe e avó) tiveram uma infância extremamente difícil. A minha avó casou cedo, não queria ter filhos e muito menos desejou ter se casado. Ela não teve amor, mas mesmo assim, me deu. Como que você vonsegue dar uma coisa que você nem recebeu? Isso é muito mágico”, reflete a cantora, reflexo de muitas famílias brasileiras comandada por mulheres. “Elas são o que me inspira e o que me motiva. Cresci e aprendi que eu não preciso de ninguém. Posso ser feliz. E se vier (um companheiro), tem que entrar no meu ritmo, amor.”

Vida offline
Discreta quando o assunto é sua vida pessoal, ela encontrou o ritmo da batida ao lado de Tom Ribeira, músico da nova cena da MPB. “Estou vendo um relacionamento muito feliz, assim, muito tranquilo”, entrega Agnes, que anda se dividindo entre a capital paulista e o interior do estado, onde vive o namorado. “Fazemos trilha, corremos, caminhamos, vamos na cachoeira”, divide ela, que gosta de se conectar com a natureza.
Mesmo tão nova, Agnes entendeu que não precisa da internet para viver, por mais que tenha construído uma carreira nas redes sociais. A maior prova disso é ela conseguir manter sua vida privada ao pé da letra. “Já me exponho através das minhas músicas e composições. Uma vez, estava conversando com a Liniker e ela falou uma frase que eu nunca esqueci. ‘Quando a gente compõe, estamos mostrando o nosso lado mais nu. Isso já é de uma grandeza enorme”, declara a compositora.
Inclusive, além disso, Agnes acredita que se expressa mal sem a presença da música. “Sou muito ruim para falar. A arte, moda, música me ajudam nesse processo, além da terapia, porque eu chegar e conversar, é uma trava muito grande”, diz.
Autoestima
Tanta sabedoria reflete em sua imagem, é claro. Ao estar aberta para o mundo, Agnes se permitiu descobrir-se como mulher e gostou do que viu. “Estou descobrindo que eu sou linda de todos os jeitos. Cheguei nesse ponto da autoestima!”. Segundo ela, esse resultado está atrelado ao seu cabelo. “É o ponto alto da minha beleza, assim como a minha pele também”, afirma a compositora, que costuma variar seus fios, mas principalmente usando de modo black power. “Me sinto gigantesca, com 2 metros”, conta ela, que se acha “uma negra versátil e maravilhosa”. A gente concorda!

Futuro próximo
Após sua espécie de hiato, Agnes voltou a compor, mas não da maneira acelerada como a internet funciona. “Escrever uma música não é do nada. Tem que viver um processo, que às vezes duram anos, dói para caramba, que você precisa renascer”, desabafa ela, que está animada com o que está por vir, principalmente em 2026.
“Vem aí músicas que estão vindo de processos que vivenciei durante esses últimos anos. Está vindo o álbum, vindo EP, vindo minha primeira atuação. Mais para a frente eu posso contar tudinho. É isso aí, um recomeço na carreira”, entrega Agnes, que vai fazer coisas que sempre quis fazer, mas “nunca havia tido oportunidade”.
Mais especificamente sobre a atuação, a cantora conta que ainda não pode revelar o projeto, mas dá dicas: tem uma apelação muito legal, de uma escritora nordestina, de um livro que está fazendo muito sucesso.
Fotos: Isabella Valentini
Styling: Thiago Biagi
Look: Gucci
Jóias: Prasi Fine Jewelry
Beleza: Agnes Nunes
Texto: Baárbara Martinez
Design gráfico: Alicia Nakamura
Videomaker: Gleno
Produção executiva: Jaquelini Cornachioni
Agradecimentos: Abner Rosendo e Jaque Esteves
