Garotas estúpidas
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As gurus da internet: a multiplicação das contas “espiritualizadas da pseudociência”

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Se por um lado, está cada vez mais comum encontrar pessoas que não acreditam na ciência – oi? –  anda bem fácil tropeçar por aí em gente que coloca a maior fé em soluções mágicas – e elas tooodas estão na internet.

Temos acompanhado um crescente movimento nas redes sociais: os influenciadoras-gurus fazem a festa no terreno virtual! Líder espiritual com mais de 800 mil seguidores dando dicas pra vencer a ansiedade e melhorar a autoestima; atitudes para ser feliz – que só dependem de você por perfis com mais 700 mil seguidores, blogueiras que usam do discurso do empoderamento feminino com feitiços e bruxaria para te ajudar chegar lá and counting… não param de surgir novas contas com o assunto “wellness”. Pipocam na rede soluções que incluem de pensamento positivo a cristais e mantras para levar uma vida saudável.

Em tempos que maior parte de nossa informações vem da internet, é comum que a gente busque ajuda aqui quando precisamos. 

Lembro bem que em um período doloridíssimo pós – término de relacionamento, foi também ao Google que recorri. Encontrei dois conteúdos que me ajudaram absdurdamente: um Ted Talk com o maravilhoso psicólogo Guy Winch: “como curar um coração partido” e, um vídeo no canal do youtube de outro psicólogo, Pedro Calabez no “a dor do coração partido”. Eles explicam exatamente como nosso cérebro funciona nesse processo e o que podemos fazer para não cair nas armadilhas dele. Eu procurava ciência. Não é o que temos visto nesse novo movimento.

Tem gente que acredita que é preciso de muita fé para conseguir acreditar na ciência, quase mais do que para acreditar em superstições. 

O psicólogo britânico Stuart Vyse disse, em entrevista ao Nexo, que as crenças mágicas têm um apelo compreensível porque nos ajudam a escapar do mundano e do previsível. Ele comenta que a superstição tende a vir à tona quando queremos que algo importante aconteça, mas não conseguimos ter certeza de que acontecerá. Ela nos dá uma sensação de controle sobre o incontrolável. 

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Gwyneth Paltrow, quem diria 

A pseudociência vem acompanhada de frases de efeito e não raro acusa os críticos de fazerem parte de uma teoria da conspiração. Foi exatamente esse o caso da atriz Gwyneth Paltrow. Ela criou a Goop, há pouco mais de dez anos, essa marca de estilo de vida e acabou virando uma milionária da indústria do bem-estar. Vende desde repelente de vampiro psíquico (bora espantar gente tóxica com repelente? Kkk) a bolsa medicinal de cristais. Incluindo pedras para aumentar a energia sexual e pó que garante sucesso profissional. E a empresa só faz crescer…

E o que move as pessoas a seguirem essas influencers? 

Algo que não está no nosso controle fique sob nosso controle. São pessoas aparentemente bem resolvidas e a moda as coloca em um mundo descolado. Se ela faz e dá certo, vou fazer também. Em outras palavras, o guru seria alguém com uma habilidade de levar mais rápido, num tapete mágico, para um lugar onde eu quero chegar. E isso é possível? Para piorar, a internet acaba fortalecendo essa imagem. “São pessoas bonitas, bem sucedidas, com muitos seguidores, uma vida plástica”, observa a psicóloga especialista em saúde mental Andréa Chaves, de São Paulo. 

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Ai, que preguiça…!

“Estamos vivendo uma época na qual as pessoas estão mais preguiçosas: para estudar, para se desenvolver. E aí, o guru é essa figura poderosa que levar para um lugar mais fácil, tipo um ‘gênio da lâmpada’ ou o ‘mágico de  Oz’”, explica Andréa.

Paralelamente, temos vivido um tempo no qual as pessoas têm pouca resistência à frustração – afinal de contas, a gente pode tudo! Até falar com alguém que está do outro lado do mundo em frações de segundos… “Essa baixa resistência acaba nos colocando nesse lugar de criar sintomas quase que mágicos para as nossas tomadas de decisão, para as coisas que precisamos resolver, de um modo geral. 

Os gurus se encaixam perfeitamente nesse cenário social no qual as pessoas preferem ver vídeos a ler um livro. É muito melhor eu ter um acalento da minha alma em relação a uma habilidade que eu preciso melhorar do que de fato eu ter que melhorá-la por um esforço. É o mesmo princípio do “perca 10 kg tomando algumas cápsulas, ou estude em dois anos o que você pode estudar em cinco.” 

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Coach vendedor de milagres

No Instagram, há 13 milhões de #coaching, mais de 11 mil publicações com a #coachingholistico, mais de 2 mil com #coachingquantico. Isso porque não conseguimos mensurar as falas das blogueiras espiritualizadas que fazem sucesso com frases motivacionais e de auto-ajuda… “Quando eu tenho um coach de vida, acabo colocando numa outra pessoa as expectativas de resolver a minha vida”, fala Andrea. “A figura do coach por si só, não é ruim. Ele tem técnicas e estratégias para você você a vencer certos desafios para os quais não é tão habilidoso. 

A grande questão é que o coach simplifica uma demanda que é complexa, que a vida do ser humano, que tem fatores biológicos, sociais, espirituais, psicológicos. Então como eu vou arrumar um treinamento que vai mudar a minha vida em apenas cinco/dez encontros? E por essa necessidade que eu tenho de ter alguém para me direcionar e ancorar, acabo colocando no coach a responsabilidade de resolver as minhas questões”, continua.

Onde mora o perigo nisso tudo?

Querer é sempre poder? Quando você fala que querer é poder, e se você não chegou lá é por que você não está querendo direito é inclusive cruel e adoecedor. “Você traz um adoecimento mental para a pessoa, pois você começa a atacar a autoestima dela. Então, se eu quero, eu posso, eu consigo, eu vou em frente, eu vou atrás, quando na verdade existem estações da nossa vida, e existem algumas estações que mesmo querendo você não vai poder. 

Agora, é óbvio que você precisa ter sonhos, desejar algo, ter expectativas acerca do seu futuro. Mas você também precisa entender quem você é. Acho que o grande roubo do ‘querer é poder’ é quando a pessoa se desvincula da identidade de quem ela é, enquanto pessoa, estrutura emocional. E quando eu me desvinculo da identidade de quem eu sou, eu posso me confundir e querer aquilo que eu não posso ter”, analisa a psicóloga.   

Mágica de todo dia

Richard Dawkins, autor do livro O Gênio Egoísta, afirma que, antigamente, usávamos o sobrenatural para explicar o mundo antes do desenvolvimento do método científico. Ele conta que a magia realidade, que a ciência pode comprovar, está nas coisas mais simples, como a certeza do nascer do sol no mesmo horário, todos os dias – essa é a mágica diária. E nessa, sim, vale acreditar!

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