Em “Vale Tudo”, Solange Duprat, personagem de Alice Wegmann, reacendeu o debate sobre maternidade ao revelar o interesse de engravidar. Por isso, alguns assuntos voltaram à tona, como FIV (fertilização in vitro) e congelamento de óvulos.
Esses assuntos, já muito discutidos nas redes sociais, ainda podem causar estranhamento. Mas com a quantidade de informações que hoje temos acesso, é justo dizer que ele ainda é um tabu?

A primeira FIV não é nada recente e aconteceu pela primeira vez em 1978, na Inglaterra. No Brasil, o procedimento chegou apenas em 1984. Já o congelamento de óvulos existe desde os anos 90, mas com taxas de sucesso baixas. A aprimoração da técnica veio apenas no final dos anos 2000.
Os dois temas não são novos, mas a verdade é que, com a internet, ambos se tornaram mais “populares”, com informações encontradas facilmente.
De acordo com o Dr. Roberto de Azevedo Antunes, o congelamento de óvulos e a FIV deixaram de ser temas restritos às clínicas de reprodução e passaram a ser discutidos em consultórios, na mídia e até em rodas de conversa entre amigas.
“Hoje, muitas mulheres já encaram o procedimento como uma opção de planejamento reprodutivo. O acesso à informação melhorou, tanto pela internet quanto por campanhas educativas. Ainda existem mitos, mas as mulheres chegam à consulta já sabendo que idade é um fator crucial e que a qualidade dos óvulos não é preservada indefinidamente”, diz.
Congelar óvulos é sobre autonomia?
De acordo com o médico, já é possível perceber um crescimento anual na procura de congelamento de óvulos, principalmente em mulheres entre 32 e 38 anos. Esse fato reflete mudanças sociais e profissionais, além de uma consciência maior sobre limites biológicos de fertilidade.
“Os motivos mais comuns são o adiamento da maternidade por não ter parceiro, priorização da carreira ou projetos pessoais, e condições médicas que podem comprometer a fertilidade, como endometriose, tratamentos oncológicos ou histórico familiar de menopausa precoce”, explica Roberto.

O congelamento de óvulos aparece, de fato, como uma maneira de ampliar escolhas. Mas, apesar da segurança, é necessário dizer que congelar os óvulos não é uma garantia de gravidez no futuro.
É o que reforça o doutor: “Não garante uma gravidez futura, mas oferece à mulher mais tempo para decidir quando e em que circunstâncias deseja ser mãe. É uma ferramenta de empoderamento, pois dissocia parcialmente o relógio biológico da decisão reprodutiva.”
Camila Coutinho, influenciadora, empresária e nossa big boss, conta que decidiu congelar os óvulos aos 35 anos. “Foi um processo tranquilo. Entendo que esse é um assunto muito delicado para várias mulheres, mas, no meu caso, fui bem prática. Só pedi que o médico me avisasse quando o hormônio batesse muito forte para comunicar as pessoas ao meu redor, já que algumas mulheres relatam tristeza, estresse. Mas não senti nada, a não ser a barriga inchada e uma celulite que ficou. No geral, encarei esse processo com muita naturalidade, como deve ser.”
A naturalidade citada por Camila veio por esse já ser um assunto muito explorado. Para ela, que deseja ser mãe, o tabu ainda existe porque o mundo ainda não se acostumou com mulheres livres.
“A independência feminina é algo ainda novo. Para o homem, a régua social é sucesso financeiro e profissional. Para as mulheres, é a família. É isso que questionamos todos os dias na sociedade. Algumas mulheres ainda se “envergonham” de ter que congelar óvulos porque isso, muitas vezes, significa que não casaram. Fugir da régua que a sociedade impõe exige muita personalidade”, fala Camila.

Liberdade reprodutiva, mas para quem?
Congelar óvulos não é um processo barato, muito pelo contrário. Por isso, ainda existem grandes debates sobre essa técnica ser tão associada à liberdade reprodutiva, visto que a classe social, nesse caso, é determinante.
Segundo Roberto, esse é um ponto delicado. “O acesso ainda é restrito, principalmente por custos elevados. Portanto, não podemos tratar o congelamento como uma solução universal. Há um risco de criar uma falsa sensação de segurança para algumas mulheres, enquanto outras ficam excluídas por questões econômicas.”
Mesmo com a informação, ainda há julgamentos
É inegável que, ao longo dos anos, houve um avanço significativo em relação à fertilização in vitro e congelamento de óvulos. Voltando para a nossa questão inicial: é seguro dizer que o tabu diminuiu bastante, mas ele existe, já que muitas mulheres ainda enfrentam críticas sociais e familiares em relação a essas decisões.
“Quando o tema aparece em um enredo de novela, gera conversa, reduz preconceitos e estimula mulheres a buscar informações e orientação médica. Isso é a sociedade buscando normalizar o assunto, o que é ótimo”, finaliza Roberto.