Recentemente, fomos impactadas por vídeos sobre Girl Math. Não é a primeira vez que o termo fica em alta e ele fala sobre como muitas mulheres justificam compras de formas inusitadas, quase como uma matemática própria.
Exemplos: “Ingressos comprados meses atrás são de graça no dia do show, porque já esqueci que paguei”, ou coisas mais básicas, como “Se eu devolver um produto de R$100 e comprar outro de R$150, na verdade só gastei R$50.”
Calma, nós sabemos que a trend se trata de um meme! Mas entendemos também a importância de falar sobre alguns assuntos que foram levantados nas redes sociais a partir disso: educação e independência financeira, além do estereótipo que as mulheres carregam quando o assunto é dinheiro.

Nossos gastos são sempre vistos como fúteis
Os gastos das mulheres são constantemente questionados. Já o mesmo não acontece com os homens.
“O consumo do homem raramente é julgado. Quando ele gasta com futebol, carros ou videogame, a sociedade diz que ele precisa ter esse prazer, é uma válvula de escape. As mulheres, no entanto, se gastam com beleza ou moda, precisam sempre justificar e, muitas vezes, são vistas como descontroladas”, analisa Thaise Xavier, jornalista e pesquisadora sobre o trabalho das mulheres.
Isso acontece porque a sociedade, historicamente, vê os gastos dos homens como “investimento”. Tudo o que envolve o universo masculino é encarado de maneira mais séria do que o universo feminino, o que nem precisamos afirmar: é muito injusto.
Isso ainda ganha outra camada quando pensamos em classes sociais diferentes. “Se estamos falando de uma mulher que foi privada das coisas na infância ou adolescência, isso ganha outros fatores, mas ela não deixa de ser julgada”, comenta a comunicadora. Muitas vezes, é possível que essa mulher sinta até mesmo culpa por comprar algo de valor.
A realidade fora da internet é diferente
Na trend ‘Girl Math’, brincamos com os nossos gastos impulsivos. Mas na vida real, 49,1% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, de acordo com o Censo 2022, e isso inclui mais mulheres assumindo o papel de responsáveis financeiros e administrativos em suas casas.
“O Brasil não fala muito sobre educação financeira no geral (nem para homens, e muito menos para mulheres) e, por mais que o estereótipo de futilidade exista, isso não reflete a vida real. Cada vez é mais comum que os filhos, em especial a Geração Z, tenham crescido assistindo a mãe cuidar do orçamento e renda do lar. Elas pensam na gestão da casa, das crianças, do supermercado, tudo”, comenta Thaise.
O consumo é feito para nos fisgar
Já reparou na quantidade de tendências de moda e beleza que surgem todos os meses? Novos produtos, uma peça que é vista como “a mais cool do momento”. Agora, junta tudo isso com o fator da pressão estética, autoestima e aceitação.
As mulheres demoraram para ter acesso ao trabalho e, depois, demoraram para conquistar salários mais justos, algo que ainda não acontece de fato. Com a “independência financeira”, o jeito que a sociedade criou de nos manter “reféns” é, sim, através da busca pela perfeição.
“Para a sociedade, as mulheres precisam estar sempre impecáveis e, por isso, gastamos uma quantidade do que ganhamos com roupas, produtos de beleza, etc. Precisamos nos adequar, ser aceitas pelo ambiente em que estamos. Mas é claro que temos também que nos blindar do consumo excessivo. Existe uma oferta de produtos gigantesca na internet. Temos que construir a nossa autoestima para entender o que de fato queremos”, fala Thaise.

Educação financeira é essencial na luta pelos direitos das mulheres
“Quanto mais refém financeiramente uma mulher é de um trabalho que faz mal, ou de um parceiro tóxico, pior para ela. E temos sempre que lembrar: a sociedade vai dar munição para que a gente se enrosque, em especial através do consumo. Precisamos aprender a cuidar do nosso dinheiro, a transitar pelo mundo sem sermos consumidas”, reforça Thaise.
Ou seja: não podemos ter medo de falar ou pensar sobre dinheiro. A educação financeira é essencial para a nossa independência.
Isso garante que a gente tenha mais autonomia nas nossas decisões, além da possibilidade de quebrar ciclos de relacionamentos abusivos. Além disso, planejamos de maneira mais próspera no nosso futuro.
É importante lembrar: educação financeira é um instrumento de proteção e liberdade. E, aqui, não estamos dizendo que você precisa deixar de comprar aquilo que ama. Nossos gastos não são fúteis.
O ponto central é entender sobre o seu orçamento e, assim, evitar o consumo excessivo em prol de uma vida financeira mais confortável.