Pela primeira vez como feriado nacional, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é uma data importante para começarmos a sonhar (e a se movimentar) para criarmos um mundo do qual desejamos viver.
A data simboliza não só a luta pelo resgate da memória histórica, dos valores, dos direitos, da busca pela justiça e pela igualdade da população negra, mas também como um momento de ações de combate ao racismo.
Em meio aos debates levantados neste dia, conversamos com três influenciadoras sobre a construção de padrões de beleza em suas vidas e como a diversidade racial crescente nas redes e na indústria dos cosméticos podem transformar a vivência e autoestima de futuras gerações.
Michele Passa
Professora de física, mestra em educação, influenciadora e mãe. Michele começou a criar conteúdo no YouTube enquanto passava pela transição capilar. “Criei um canal no YouTube e meu Instagram. Rapidamente fui ganhando apoio. Outras mulheres pretas se inspiravam em mim, e pela primeira vez eu me sentia cada vez mais bonita!”, relata.
Garotas Estúpidas: Você se lembra quando foi a primeira vez que se olhou no espelho e disse: ‘nossa, eu sou linda pra caramba’? Me conta como foi esse sentimento?
Michele Passa: Nossa, já tinha mais de 30 anos. Engraçado é que eu desfilava em concursos na adolescência, inclusive ganhei alguns e outros fiquei em segundo lugar. E ainda assim não me sentia bonita! Fui entender disso, só depois de adulta. A minha autoestima floresceu quando me mudei para São Paulo. Eu estava inserida numa cidade onde tinha maior diversidade de pessoas, de culturas, eu comecei a ver pessoas pretas cheias de autoestima. Pela primeira vez eu vi as pessoas falando que cabelo crespo era bonito. Todas as meninas pretas estavam fazendo a transição capilar, do liso para crespo/cacheado, mas nem tantas tinham o cabelo crespo 4C igual ao meu, então eu também fiz! Criei um canal no YouTube e um perfil no Instagram. Rapidamente fui ganhando apoio. Outras mulheres pretas se inspiravam em mim, e pela primeira vez eu me sentia cada vez mais bonita! Eu me encaixava de certa forma! Minha transição capilar foi um resgate!
Luanda Vieira
Com uma trajetória importante como jornalista de beleza e moda, Luanda é atenta e usa seus conteúdos como uma ferramenta para redefinir o mercado, especialmente no que tange diversidade e inclusão. “A indústria da beleza tem responsabilidade direta na construção da autoestima da mulher negra, principalmente porque a nossa pele e o nosso cabelo necessitam de cuidados diferentes do de um cabelo liso, por exemplo.”, conta em papo com GE.
Garotas Estúpidas: Como a diversidade no mercado da beleza é essencial para a construção da autoestima de nós, mulheres negras?
Luanda Vieira: A indústria da beleza tem responsabilidade direta na construção da autoestima da mulher negra, principalmente porque a nossa pele e o nosso cabelo necessitam de cuidados diferentes do de um cabelo liso, por exemplo, ou de uma pele que não é naturalmente ressecada; sendo assim, é muito difícil se achar adequada num mundo em que os produtos não são pensados para as nossas demandas, onde as campanhas de beleza não têm mulheres negras com vários tons de pele e por aí vai. Hoje a gente já vê uma melhora nessas questões, mas eu acredito que muito mais nas imagens das campanhas do que nos produtos propriamente dito; sendo que no fim do dia é a eficácia do produto que importa porque a partir do momento que uma coisa que foi vendida dizendo que funciona pra todo mundo, mas não funciona pra mim, começa um ciclo sem fim de inadequação – e muito autoconhecimento para entender que não tem nada errado com a gente, mas com o mercado que se diz diverso para vender.
Roberta Freitas
Comunicadora de beleza, atriz e apresentadora do programa Beauty Delas, Rob Freitas sempre teve uma conexão profunda com o universo da beleza. Inspiração de milhares de meninas e mulheres em todo o país, ela conta que a sua primeira referência foi e sempre será sua mãe: “É impossível falar de beleza e autocuidado sem pensar nela”, comenta.
Garotas Estúpidas: Ter uma referência é extremamente importante para a construção da nossa autoestima enquanto pessoas negras. Quem foi sua primeira referência de beleza?
Roberta Freitas: Minha primeira referência foi e sempre vai ser minha mãe, impossível falar de beleza e autocuidado sem pensar nela. Minha mãe sempre teve salão cheio, clientes fiéis. Mesmo com toda demanda e correria sempre cuidou do meu cabelo com maestria, me deixava inclusive brincar com ele na adolescência e com certeza isso me deu muita confiança e autoestima para entender a beleza, potência e inúmeras possibilidades que meu cabelo tem e me traz. Sempre amei maquiagem, mas sempre fui muito alérgica quando pequena, tinha alergia de tudo, maquiagem, esmalte, perfume… Conforme fui crescendo a alergia foi amenizando. Costumo brincar que de tanto insistir minha pele aceitou.