Quando a Fenty Beauty chegou ao Brasil, em agosto de 2020, o que mais surpreendeu o público foi a cartela extensa de bases. No total, são 50 tons, que abrangem a grande maioria das cores de pele, até as mais retintas. Antes disso, estávamos acostumados a ver, no máximo, 15 tons de base e, na maioria das vezes, as peles mais escuras não eram atendidas.
Assim, podemos dizer que a marca de Rihanna foi a responsável por criar um amplo movimento no mercado da beleza: não é mais aceitável que qualquer marca – seja ela nacional ou internacional – lance bases que não atendam a todos os tons de pele.

Logo em seguida, vimos grandes nomes da beleza nacional, como a marca de Bruna Tavares e a de Boca Rosa, lançando bases – líquidas e em stick – com uma cartela grande de cores. Angélica Silva, beauty expert, reflete sobre esse momento em entrevista ao GE.
“Não é que outras marcas internacionais não fizessem produtos para a pele negra, mas esses tons não chegavam no Brasil, ao contrário das cores mais claras, sempre disponíveis. A diferença é que a Fenty Beauty disse que só viria para cá se todos os tons fossem levados para as lojas. Se uma cor não vai, então não vamos ter nenhuma. Ironicamente, quando as bases da Rihanna começaram a ser vendidas, os tons mais escuros foram os primeiros a esgotar, acabando com a ideia de que pessoas negras consomem menos produtos de beleza do que brancos. Isso, de fato, começou um movimento”, fala ela.
+ Beleza: Esses são os cabelos loiros da vez
Por anos, esse foi um dos principais assuntos dentro do mundo da beleza, e ele segue sendo de extrema importância. Mas e o que vem depois?
É preciso pensar para além das bases
Mesmo que a cobrança por bases para todos os tons de pele deva continuar existindo até que essa não seja mais uma questão no mundo da beleza, é preciso pensar para além desse produto. “As marcas realmente estão se preocupando apenas em trazer uma cartela inclusiva de base, mas se esquecem de outros produtos, como corretivo, por exemplo. É muito difícil encontrar opções de corretivos mais escuros e que não deixem a pele cinza. Outro produto é o bronzer. Se eu tiver dois ou três que dão certo, é muito”, diz Mirella Qualla, em entrevista ao GE.
A influenciadora, conhecida por suas resenhas sinceras, também relata outro produto difícil de encontrar no mercado. “O protetor solar com cor é impossível. Mesmo aqueles que estão classificados como ‘escuro’, são bem mais claros do que eu. Imagina só então uma pessoa com a pele mais escura do que a minha”, continua ela.
Angélica comenta sobre outras categorias. “Os batons e esmaltes considerados ‘nude’ nem sempre são inclusivos também e é uma questão. Eu quero um nude para mim, de acordo com o meu tom de pele, e não baseado a partir de uma pele branca.”
+ Beleza: O chanel cacheado de Maria de Fátima é o momento: 3 dicas para copiar corte e finalização
A lista, na verdade, é muito maior. Durante a conversa que tivemos com as influenciadoras, outros produtos foram citados, como pó solto e também sombras claras. “Muitas sombras não pigmentam a pele escura se não fizermos uma base mais clara antes, com auxílio de corretivo. A verdade é que ainda precisamos caminhar muito até chegar no mundo ideal”, diz Mirella.
A presença de pessoas negras em todos os lugares é essencial
Atualmente, os influenciadores têm um papel crucial no mercado de beleza. É através de resenhas que um produto pode viralizar e arrancar elogios, ou ser altamente cancelado. “Precisamos valorizar o trabalho de influenciadoras negras, que se esforçam tanto para comunicar. Nem sempre as marcas nos enxergam ou valorizam o nosso trabalho. Nem sempre somos incluídas, mas precisamos falar para fazer a diferença e gerar mudanças”, comenta Angélica.
“Para que algo mude, precisamos ter pessoas negras desde a produção desses produtos de beleza até a comunicação. No momento em que estamos, não podemos mais errar quando o assunto é inclusão e representatividade. Pessoas como eu precisam estar em campanhas, por exemplo. É sobre pe rtencimento”, continua a influenciadora, que tem mais de 300 mil seguidores só no Instagram e possui uma base sólida de seguidores.
Mirella completa: “Como influenciadora, tenho voz e, por isso, preciso falar. As marcas tem que saber o que elas estão acertando e o que estão errando. As minhas resenhas falam sobre a realidade que eu passo, tanto como influenciadora como consumidora de beleza. Não tenho medo de falar. Não alcançamos o cenário ideal, mas vejo na internet o potencial para que isso mude. Por isso, seja você uma pessoa conhecida ou anônima, use a sua voz.”