Quando a modelo Barbara Palvin utilizou suas redes sociais, com mais de 20 milhões de seguidores, para compartilhar dificuldades com a endometriose, ela não estava somente expondo uma luta pessoal, mas acendendo um alerta. Sua trajetória, marcada por dor e pela dificuldade em obter um diagnóstico, ressoa com a experiência de milhões.

No Brasil, artistas como Anitta, Giovanna Ewbank e Tatá Werneck já falaram abertamente sobre os desafios da condição. A jornalista Patrícia Poeta também revelou como a falta de informações dificultou o tratamento, um obstáculo que une as histórias de todas elas e levanta uma questão crucial: se tantas mulheres enfrentam esse problema, por que o diagnóstico e o tratamento ainda demoram tanto?
A resposta é alarmante. “Em média, uma mulher com endometriose leva oito anos para receber um diagnóstico preciso”, afirma o Dr. Igor Chiminacio, ginecologista especializado em endometriose e cirurgia minimamente invasiva. “Com esse tempo prolongado da doença inflamando o corpo a cada menstruação, casos que poderiam ser tratados de forma mais suave evoluem para situações graves, com risco de consequências sérias, como a necessidade de remoção do útero, dos ovários ou até mesmo partes do intestino e da bexiga”, explica o médico. Esse panorama preocupante ocorre porque, segundo o especialista, a endometriose ainda é uma patologia mal compreendida pela medicina em geral, com poucos profissionais realmente especializados no tema ao redor do mundo.
Sinais que vão além da cólica
Considerada incapacitante em muitos casos, a endometriose afeta cerca de 190 milhões de mulheres em idade reprodutiva globalmente, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Embora as cólicas intensas sejam o sintoma mais reconhecido, o corpo sinaliza outras questões que podem passar despercebidas ou confundidas com outros problemas. Entre esses sinais estão alterações intestinais durante o período menstrual, fadiga crônica, dor nas pernas e uma sensação constante de inchaço abdominal.
Para encurtar o tempo de diagnóstico, são necessários exames de imagem como a ressonância magnética e o ultrassom com preparo intestinal específico, além de uma investigação cuidadosa por parte dos médicos sobre o cotidiano e os desafios da paciente. Somente dessa forma é possível mapear a extensão da doença e definir a melhor abordagem terapêutica. Felizmente, nem todas as pacientes precisarão de cirurgia; em muitos casos, a condição pode ser controlada com medicamentos que suspendem a menstruação.
Uma nova forma de entender a doença
Em casos mais agressivos, a endometriose pode se espalhar para órgãos distantes do sistema reprodutor, como bexiga, intestino e até mesmo o pulmão. “Uma forma mais moderna de entender o quadro clínico é visualizar o útero como um pequeno polvo com tentáculos. As estruturas de sustentação do órgão, que seriam os tentáculos, podem servir de caminho embrionário para a doença se disseminar durante a construção do corpo da mulher”, comenta o ginecologista. Tal teoria que ganha mais adeptos a cada dia também aparece nos arquivos de outro médico, americano, que foi por muito tempo considerado um dos maiores especialistas na doença, o Dr. David Redwine. Ele, inclusive, foi um dos primeiros experts a defender a origem embrionária da doença, aparecendo no famoso documentário “Below The Belt” (2023), da diretora Shannon Cohn.
Ou seja, muito possivelmente a endometriose já está presente na mulher desde o período embrionário, antes mesmo do nascimento. O cenário, embora desafiador, caminha em direção a um futuro mais promissor, de diagnóstico precoce.